quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Feliz aniversário, meu querido amigo!


Quero contar uma história de amor, das infinitas histórias de amor que tenho na minha vida. Embora não tenho a preocupação de como muitos possam interpretá-la, quero esclarecer que o meu conceito sobre o amor é diferente da forma como ele é pregado, muitas vezes. Não tem nada a ver com romaticismo, pois o amor romântico é carregado de apego e sofrimento. Não é livre, o amor romântico é uma verdadeira prisão.
Há trinta e cinco anos, no dia 16 de fevereiro de 1977, vim para este mundo. Poucas horas depois, o Felipe chegou. Demoramos 13 anos para nos encontrar e quase 22 para a gente se conhecer bastante bem. Embora não queria me prender a rótulos e etiquetas, é necessário usar algum conceito conhecido para definir como começou a nossa história de amor... primeiro nos tornamos amigos e a convivência foi curta, durou poucos meses, depois desaparecemos um da rotina do outro.
Alguns anos depois, quando tínhamos 18 anos, nos reencontramos. Estávamos em época de descobertas, e além de amigos, fomos amantes. Isso não durou quase nada, foram encontros esporádicos. Não havia nenhuma pretensão. Ainda éramos livres.
Nos anos seguintes,  nos cruzavamos de forma casual no centro de Santos, onde trabalhávamos.  Talvez tenham sido duas ou três vezes. Ainda não éramos tão importantes um para o outro.
Mas aos 23 anos, nos reencontramos outra vez. E aí começou uma história que mudou as nossas vidas... nos apaixonamos e nos amamos, éramos um do outro. Ele era a minha metade e eu era a metade dele (era o que acreditávamos, ingenuamente).
Sai do Brasil e vim morar com ele na Espanha. Durante muito tempo estávamos presos um ao outro. Existia uma dependência mútua. Acreditávamos que aquilo era o verdadeiro amor. Tínhamos orgulho de estarmos juntos. Era uma bonita história romântica... com todas as alegrias e tristezas que uma relação desse tipo pode oferecer.
Com ele, aprendi a falar outro idioma. Minha felicidade estava nas mãos dele. E me sentia a pessoa mais feliz do mundo. Obviamente condicionei o meu bem estar a ele e o terror de perdê-lo me tornou uma pessoa insegura. Éramos ainda muito jovens e cometemos infinitos erros um com o outro... os meus foram cometidos pelo medo pavoroso de não estar ao lado dele.
Fomos tão felizes quanto infelizes. Rimos tanto quanto choramos. Viajamos a outras cidades, a outros países. Conhecemos culturas diferentes, provamos sabores diversos. Houve muito
desejo, muito apego, paixão e quando saíamos da personagem que havíamos desenhado um para o outro, houve raiva, desentendimento, lágrimas e dor... muita dor!
Cinco anos depois de uma convivência continuada, a felicidade de outrora havia se tornado uma grande tristeza. Éramos incapazes de poder continuar sorrindo, estando juntos. O choque entre o que desejávamos com a realidade que vivíamos, gerou muito sofrimento. Ficamos perdidos... não podíamos enxergar a dor um do outro, pois a própria de cada um, nos cegou totalmente.
Acabamos nos tornando vítima um do outro. Exercíamos de forma recíproca o papel de réu e juiz. Até houve júri popular. Permitimos a entrada de advogados, promotores, testemunhas e de um público que assistia empolgado a transformação de uma “relação perfeita”, em um verdadeiro desastre. Apesar do interesse mórbido de alguns, também teve dor por parte de aliados de cada um (nossas famílias e amigos).
Entrou outra pessoa nessa relação, formando um verdadeiro triângulo amoroso, onde os três pontos estiveram ligados diretamente um ao outro. E esse ser,  pelo qual nutro um profundo amor, felizmente faz parte das nossas vidas até hoje.
A luta pelo fim da estagnação provocou um desequilíbrio profundo dentro de mim (acredito que neles também).
Eu e o Felipe nos afastamos em 2006, por circunstâncias da vida. Eu tinha um namorado e ele, outro. Ele foi para Áustria, eu permaneci em Madri. A distância e o amadurecimento serviu para eu enxergar que o meu amor por ele nunca iria acabar... é verdadeiro e incondicional, assim como é o meu amor por todos os seres.
Ao longo desses anos, sabemos que esse sentimento é real. Já não existe amor romântico, estamos livres dessa prisão. O que temos agora é infinitamente melhor. Não há desejo e nem apego, não temos necessidade de provar nada um para o outro. Não precisamos da aprovação e nem do reconhecimento... não tentamos em nenhum momento, impressionar um ao outro. Já não há julgamentos, existe apenas a consciência de que não precisamos um do outro e a partir daí, surge o amor!
O verdadeiro amor liberta. Nele não há necessidade de perdão. O passado não importa realmente. O que vale é o presente e nele existe a satisfação de que eu me amo, e por conta desse amor próprio, pude me reconciliar de forma sincera e plena com meu eterno amigo, Felipe Márquez!
Continuo morando na Espanha e ele, atualmente, na Alemanha. Desconhecemos nossos destinos, mas tenho a plena certeza de que ele é uma dessas pessoas que estará sempre comigo, independente da distância de do tempo. 
E hoje, em um dia tão especial, quero lhe desejar muita paz, saúde, amor e alegrias!


Grande beijo no coração!