sábado, 21 de abril de 2012

Crise na monarquia espanhola

Nuvens escuras pairam sobre o Palácio da Zarzuela (residência dos reis da Espanha) desde o final de 2011, quando Iñaki Urdangarin, casado com a infanta Cristina, teve seu nome envolvido em um caso de corrupção.
Os veículos de comunicação fizeram eco das investigações do "caso Babel", derivado de outra trama que estava sendo investigada, titulada "Palma de Arena". O genro do rei D. Juan Carlos I teria transferido fundos públicos, captados através da ONG "Instituto Noos" (do qual fora presidente de 2004 a 2006), a paraísos fiscais. Um verdadeiro escândalo para a coroa espanhola.
Na tentativa de paliar a repercussão negativa deste caso, o  rei abriu pela primeira vez as contas da Casa Real, apesar de não estar constitucionalmente obrigado a fazê-lo. Foi declarado que em 2011 foram gastos 8.434.280 euros, mas esse valor corresponde apenas a 1,5% dos 561.654.350,00 euros que foram  necessários para manter a monarquia  neste ano, segundo alguns periódicos.

                                                   Iñaki Urdangarin

Espanha está vivendo a sua maior depressão econômica, o desemprego afeta a quase 24 % da população ativa e o número de pobres aumenta a cada dia. Na espera de um milagre, os espanhóis demandaram a antecipação das eleições, que ocorreram em novembro de 2011 em vez de março deste ano. Com maioria absoluta, o PP (Partido Popular) assumiu o comando do governo nas mãos de Mariano Rajoy. Durante a campanha, o então candidato direitista, fizera várias promessas, mas uma vez como primeiro-ministro, teve de obedecer as normas ditadas pela União Europeia. "Não temos dinheiro" é a frase que repete e reitera para justificar os cortes nos gastos na educação, saúde, segurança pública, infra-estrutura e na maioria dos setores que afetam a todos, mas principalmente os mais vulneráveis.
Em uma realidade de absoluta austeridade, onde o governo pede esforços a população, o rei teve o azar de tropeçar no degrau da escada do hotel, onde estava hospedado, em Botwsana. Se não fora por esse incidente, sua viagem para caçar elefantes no sul da África, não viria à tona. Teve de vir às pressas em um avião particular para Madri, onde foi operado do quadril e depois de cinco dias internado, saiu do hospital e em um ato inédito, pediu desculpas aos seus súditos, através da imprensa. Embora esse gesto tenha amenizado a ira da maior parte da população, não foram todos que o perdoou. No contexto atual era o mínimo que podia fazer. 


Até pouco tempo, não se cogitava de forma tão explícita, um referendo para decidir se Espanha deve continuar mantendo a Coroa.
O acidente do monarca coincidiu na mesma semana que seu neto primogênito disparara uma espingarda contra o próprio pé, na fazenda de seu pai, enquanto praticava tiros. Outro escândalo. O adolescente tem apenas 13 anos e o regulamento de armas espanhol proíbe o uso de armas de fogo para menores de 14 anos.
Inicialmente, a foto do monarca pomposo frente a um elefante abatido causou muito impacto na sociedade espanhola. Mas agora o assunto do momento é outra informação vazada pela comitiva que o acompanhou a África, de que ele estaria acompanhado pela sua suposta amante, a princesa Corina, enquanto sua esposa, a rainha Sofia, comemorava a Páscoa ortodoxa em seu país natal (Grécia).


 D. Juan Carlos I contava até agora com a imensa simpatia popular. O papel exercido por ele durante a transição da ditadura para a democracia foi considerado fundamental. Além disso, a constituição de 1978 estabelece que o rei é a figura que representa o Estado e que de certa maneira, qualquer ataque direto a sua imagem é entendido como um atentado ao Reino de Espanha. Com essa proteção "velada", os jornalistas sempre tiveram muita cautela nos comentários sobre a Casa Real, ajudando assim a manter essa boa imagem.
No subsconciente coletivo também está a figura de Juan Carlos como salvador da pátria, por outro episódio. No dia 23 de fevereiro de 1981, alguns militares invadiram o congresso de deputados, na tentativa de golpe. Até hoje comemoram essa data que é conhecida como "23-F". E foi inculcada na cabeça dos espanhóis que sem ele, o país poderia ter sido remetido  a outra ditadura.

 
A biografia do chefe de Estado espanhol está manchada por um outro acidente que ocorreu quando ainda era jovem. No dia 29 de março de 1956, enquanto a família real passava as férias de semana santa no Estoril, em Portugal, aconteceu uma terrível tragédia. Juan Carlos, que tinha 18 anos, puxou o gatilho de um revólver que apontava a seu irmão, quatro anos mais jovem, atingindo-lhe a testa. Poucos minutos depois, o infante Alfonso veio a falecer. Essa foi a versão dada pela empregada e um amigo da família. Mais tarde, houveram outras especulações, mas a história nunca foi investigada. E esse é um assunto tabu nos meios de comunicação.

                                                        Infante Alfonso

A geração atual não se sente identificada e nem representada pela monarquia. Muitos nem sabem exatamente qual é a função que exerce a família real. Na teoria, Juan Carlos é o chefe de Estado, mas na prática não toma nenhuma decisão. Reina, mas não governa. Por tratar-se de uma monarquia parlamentária, é o primeiro-ministro juntamente com o parlamento que dirigem o país. Muitos dizem que eles servem como relações públicas do Reino de Espanha, principalmente no exterior. É como se fossem peças decorativas. E nos tempos atuais, com a situação econômica tão crítica, repercutindo no bem estar social de forma generalizada, muitos se perguntam até quando durará a monarquia no país ibérico.


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