sexta-feira, 15 de junho de 2012

De Madrid al cielo - Plaza Mayor

Os madrilenses são orgulhosos de sua cidade. Existe uma expressão popular que diz "De Madrid al cielo" (De Madri ao céu) que é repetida reiteradas vezes pelos filhos desta terra e também pelos que aqui chegam e se apaixonam a primeira vista.
Madri é uma cidade que seduz, encanta e acolhe a pluralidade sem preconceitos. Poderíamos mudar o "i" pela "e" e seria "madre", que em espanhol significa mãe. Mas a origem da palavra que dá nome a cidade não tem nada a ver com isso e não sei se essa associação foi feita alguma vez.
"De Madrid al Cielo, y en el cielo, un agujerito para verlo" (De Madri ao céu, e no céu, um buraquinho para vê-la) é a frase completa que ficou popular no final do século XVIII, quando o rei Carlos III investiu em melhorias e no embelezamento da cidade e que significa que mesmo morto precisaria de um "buraquinho" no céu para continuar vendo e desfrutando da Vila e Corte. Embora tem gente que afirma que a frase foi dita pela beata Maria Ana de Jesús, o certo é que o mais provável é que o autor fosse o entremesista Luis Quiñones de Benavente na obra "Baile del invierno y el verano" (Baile de inverno e o verão), cujo quarto verso diz:
 "Pues el invierno y verano/En Madrid sólo son buenos/Desde la cuna a Madrid/Y desde Madrid al cielo"
 (Pois o inverno e o verão/Em Madri só são bons/Do berço a Madri/E de Madri ao céu)


Um dos lugares mais emblematicos da capital espanhola é a Plaza Mayor (Praça Maior) que está no centro da cidade, perto da "Puerta del Sol" (Porta do Sol) e "Plaza de la Villa" (Praça da Vila). Desde que cheguei aqui, sempre morei a um quilômetro desse lugar que eu adoro. Costumo dizer em forma de brincadeira que é o quintal da minha casa.
É uma praça retangular, rodeada de todos os lados de edifícios de três andares, sendo a sua entrada apenas possível através dos nove pórticos. Tem 129 metros de comprimento e 94 de largura. Existem ao todo 237 varandas ao longo de toda a praça.
Tive a oportunidade de trabalhar alguns dias em um dos restaurantes ubicados no local. Assim pude comprovar a diversidade de gente que visita Madri, não somente estrangeiros, mas também espanhóis procedentes de várias partes do país. Apreciava o deslumbre dos visitantes. Aos domingos, os colecionadores de selos negociam em suas barracas e durante todos os dias do ano, vários artistas expõem suas pinturas, fazem caricaturas, tocam música, cantam, interpretam, dançam, etc. Há também os que fazem estátuas vivas. Inclusive há um casal de brasileiros, conhecidos como "pareja de barro" (casal de barro) que sempre estão por lá.

                                        A história da Praça Maior

A Plaza Mayor é o maior símbolo de Madrid de los Austrias. Inicialmente era a Plaza del Arrabal, que  estava fora das muralhas medievais, onde se comercializavam todo tipo de produtos de forma irregular.
Em 1561, as cortes foram transferidas para Madri e Filipe II a partir de 1580 começou a transformação do lugar com obras que não foram finalizadas até 1619, quando já estava Filipe III. A ideia era remodelar o local e regularizar o comércio.
A Casa de la Panaderia, o primeiro edifício, construído em 1590  é o único que resistiu aos três incêndios, sendo o mais grave ocorrido em 1790. Até então todos edifícios tinham cinco andares.
Em 1848 foi colocada a estátua equestre de Filipe III no centro da praça.
Ao longo dos séculos, esse local que é visita obrigatória de qualquer turista que vem a Madri, foi palco de inúmeros eventos públicos e históricos. Desde corridas de touros a execuções.
Quando os réus eram condenados a morte por enforcamento, a execução era feita em frente a Casa de la Panaderia; se fosse por faca ou machado, era feita em frente a Casa de la Carniceria; e se fosse no garrote, era em frente ao portal de "pañeros".

                              "Auto-de-fé", obra de Francisco Ricci (1683) - uma cena da Inquisição

Também foi usada pela Igreja na época da Inquisição para realizar " Autos-de-fé", onde mandava os hereges para a forca ou fogueira. Um desses eventos foi imortalizado pelo pintor Francisco Ricci com sua obra mais significativa "Auto de fe" (1683), que se encontra atualmente no Museu do Prado.
No mesmo lugar onde a Santa Igreja condenava à morte, também transformava gente em santo. O padroeiro da cidade de Madri, São Isidro, foi canonizado neste local em 1622.
Durante as festas do padroeiro madrileno que acontecem no dia 15 de maio, a Plaza Mayor é cenário para shows. Ao longo do ano também alberga alguns festivais e feiras, sendo a mais importante a que acontece no final do ano, por conta das festas natalinas.



                             Plaza Mayor na época da guerra civil (1936-1939), protegida por saco de areias

                 Pórtico visto da calle Toledo, cuja imagem foi usada para a capa do meu livro "O Teatro dos Anjos"


                                                   Eu e minha amiga Telma Mallet

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